Tem uma fase da vida em que a gente não está mais no fundo do poço, mas também ainda não chegou em terra firme.
E isso confunde.
Porque antes, quando doía demais, pelo menos era claro: eu estou mal, eu estou quebrada, eu estou desmoronando.
Mas quando a gente começa a melhorar…
vem um desconforto diferente.
Uma estranheza.
Uma sensação de não saber mais exatamente quem a gente é.
A identidade também entra em transição
Ninguém fala muito sobre isso, mas uma das partes mais difíceis da reconstrução não é a dor.
É a perda da identidade antiga.
Aquela versão de nós que:
aceitava menos do que merecia,
tolerava o que machucava,
se explicava demais,
se encolhia pra caber,
se culpava por tudo.
Quando a gente começa a se fortalecer, essa versão vai ficando para trás. E junto com ela, vai embora também uma forma de existir no mundo. Só que o novo ainda não está totalmente pronto.
Aí ficamos nesse lugar estranho: não somos mais quem éramos, mas ainda não sabemos exatamente quem estamos nos tornando.
É aí que mora a confusão.
Mudar dói porque tira a gente do automático
Enquanto estamos no piloto automático, mesmo que sofrendo, existe uma previsibilidade: eu já sei onde isso vai dar.
Mas quando a gente começa a se movimentar diferente, tudo muda de lugar.
Os relacionamentos mudam. As escolhas mudam. As reações mudam. As expectativas mudam.
E o mais assustador: nem todo mundo continua com a gente.
Algumas pessoas não reconhecem mais a nova versão. Outras até reconhecem, mas não sabem lidar. E tem aquelas que simplesmente preferem ficar com a antiga, porque era mais conveniente pra elas.
Às vezes a gente perde pessoas… não porque errou, mas porque cresceu
Isso é uma das verdades mais duras e mais libertadoras ao mesmo tempo.
Nem toda perda é retrocesso.
Algumas são consequência direta da nossa evolução.
Quando você muda os seus limites,muda também quem consegue permanecer perto.
E isso não significa que alguém seja ruim. Às vezes, só significa que os caminhos não combinam mais.
Crescer não é romantizado como deveria. Crescer tem luto. Tem silêncio. Tem dias de dúvida. Tem noites de choro sem um motivo específico. Tem aquela sensação de: “eu só queria não sentir nada por alguns dias”.
Quando o coração está em transição, tudo parece potencialmente instável
Nessa fase, tudo mexe mais fundo:
Um silêncio parece abandono.
Um afastamento parece rejeição.
Uma mudança de planos parece desinteresse.
Não porque você é fraca. Mas porque o seu sistema emocional está reaprendendo a se organizar.
Você não está sensível demais. Você está sensível porque está viva, em movimento, se refazendo.
A reconstrução não é sobre virar outra pessoa
É sobre voltar a ser quem você sempre foi (antes de se quebrar)
Tem uma frase que eu gosto muito: “você não está se tornando forte. Você está só lembrando quem sempre foi.”
A gente não se reconstrói para virar alguém frio, duro, inacessível. A gente se reconstrói para voltar a ser inteira.
Sentir sem se perder.
Gostar sem se apagar.
Escolher sem se culpar.
Ir embora sem se odiar depois.
E se você estiver nesse meio do caminho agora…
Se você sente que:
já entendeu muita coisa, mas ainda sofre,
já está diferente, mas ainda chora,
já está mais forte, mas ainda teme,
já se respeita mais, mas ainda vacila…
Respira.
Isso não é incoerência. Isso é processo.
Você não está atrasada. Você está exatamente no tempo da sua travessia.
A travessia não acaba. Ela muda de forma
Talvez a gente nunca chegue 100% pronta. Talvez sempre existam novas camadas para atravessar. Novas versões para integrar. Novas formas de amar, de cair, de levantar.
E talvez isso não seja um problema.
Talvez isso seja só… estar viva.
Uma verdade bonita (e pouco dita)
Você não precisa estar completamente curada para viver coisas bonitas.
Você não precisa estar totalmente resolvida para construir algo bom.
Você só precisa estar consciente de si.
Isso já muda tudo.
Se esse texto te encontrou em um dia sensível, que ele te abrace.
Se ele te encontrou em um dia forte, que ele te lembre de respeitar quem ainda está se reconstruindo dentro de você.
E se ele te encontrou em um dia qualquer, que ele fique aí, guardado como um lembrete de que você não está sozinha nessa travessia. 🌷

